A Empresa Bilionária Que Me Pagou a Preço de Bolacha
Entrei no mercado de trabalho em 2015, através de uma empresa de consultoria contábil. Era novo, inexperiente e com muita sede de aprender. Foi lá que absorvi a base de tudo que sei hoje. No entanto, mesmo naquela altura, já notava algo que me incomodava: os preços praticados pela empresa eram extremamente baixos. Mas como funcionário novo, apenas fazia o que me era pedido e recebia o meu salário — nada mais.
Boa parte dos clientes dessa empresa eram estrangeiros — empresários baratistas, que valorizavam os seus próprios produtos e serviços, mas sempre buscavam desvalorizar o trabalho dos outros, especialmente o dos profissionais africanos. Para eles, pagar pouco por serviços altamente técnicos era normal. E, infelizmente, muitas empresas africanas acabam reforçando esse comportamento ao aceitarem qualquer valor.
Cinco anos depois, com muito esforço e estudo, decidi seguir o meu caminho. Trabalhei em outras empresas, cresci profissionalmente, e finalmente fui contratado diretamente por um desses antigos clientes.
Sem experiência em negociação de contrato e salário, aceitei, sem questionar, o valor oferecido: 150.000 Kz. Mal sabia que estava a repetir o erro de anos atrás — e agora com peso redobrado.
Comecei a trabalhar, e aos poucos percebi: a carga de trabalho era enorme, compatível com um profissional de nível sênior. Eu conseguia fazer tudo, porque já tinha experiência. Mas o salário não correspondia à responsabilidade. Só para ter uma ideia: tratava-se de uma empresa que movimentava mais de 100 milhões de kwanzas por mês, com importações regulares, e uma folha salarial baixíssima — algo em torno de 3 milhões de kwanzas, mesmo com muitos trabalhadores.
No fecho do exercício, as contas mostraram um número chocante: a empresa faturou mais de 1,5 bilhão de kwanzas no ano.
Respirei fundo, terminei o meu trabalho com excelência e tomei uma decisão: pedi uma reunião e propus um reajuste salarial para 400.000 Kz — valor justo diante da carga de trabalho e da dimensão da empresa.
A resposta foi negativa. Disseram que era caro demais e que não estavam dispostos a pagar esse valor, alegando que já me pagavam menos quando eu trabalhava na antiga consultora. Em outras palavras: desvalorizaram o meu crescimento e queriam continuar pagando a “preço de bolacha”.
Moral da história:
1. Não deixes que o teu passado defina o teu valor atual.
Só porque aceitaste receber pouco antes, não significa que deves continuar a ser subvalorizado.
2. Nunca aceites salários ou contratos sem análise. Aprende a negociar e busca sempre conhecer o mercado e o teu valor dentro dele.
3. O teu preço define o padrão. Preços baixos hoje criam resistência para outros profissionais amanhã. Se és muito barato, os próximos terão que lutar mais para conseguir algo justo.
4. Evita trabalhar por amizade ou pena. O trabalho precisa ser valorizado como tal, e quem não valoriza o teu tempo não merece o teu talento.
5. Cuidado com os “clientes bilionários com mentalidade de pobreza”. Eles lucram milhões, mas não querem investir um mínimo na estrutura, no profissional e no capital humano que os faz crescer.
Reflexão final:
O profissional africano precisa deixar de se submeter à lógica da exploração. Enquanto aceitarmos migalhas, estaremos a perpetuar um sistema que nos desvaloriza. Exigir respeito é também exigir remuneração justa.
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